Marcio Minguta é fundador e administrador da NetWireless, provedor de internet e profissional que trabalha há mais de 20 anos no setor, nós convidamos ele ao nosso podcast e aqui está o resumo do que foi falado.
“como está o mercado de transporte de dados?”
“o mercado de transporte de dados está passando por uma transição. Nós tivemos nos últimos anos a velocidade que há cinco anos começou com 10 Mega e passou pra 100 Mega, 1 Giga, e agora estamos passando por uma migração dos 10 para os 100 Giga no mercado de transporte de dados. No ano passado a gente teve um salto de transporte de dados migrando da plataforma de 1 Giga para a de 10 e ai começou a entrega dos grandes fabricantes de roteadores capazes de trafegar entre um de 10 Giga e 40 Giga, e a entrada dos smart switch no mercado e as grandes marcas acompanham a tendência”
– Mas calma, talvez usando esses termos as pessoas não entendam. O que é um smart switch?
“Os smart switch são uma tecnologia aplicada nos switchs, que são capazes de fazer, tecnicamente, roteamento. ou seja, eles conseguem transportar dados, aplicar BGP, aplicar OSPF em cima de switchs”.
– Então são switchs L3?
“Isso mesmo são switchs L3”
– Beleza, mas continua sua observação desse conceito de crescimento técnico das capacidades.
“Com a entrada do conceito da fibra óptica, da consolidação da fibra óptica como meio de transporte, nós vimos uma tendência do ano passado pra cá da utilização de switchs de maior capacidade, ou seja, de portas de maior capacidade, ultrapassando a barreira do giga, chegando a 10, 40 e 100 Giga agora, e também dos equipamentos de transmissão de dados por lâminas. Ou seja, nós temos aí os DWDM e os CWDM; esses equipamentos são capazes de transportar várias cores diferentes dentro de uma única fibra e isso da a possibilidade de, por exemplo, hoje nós temos fabricantes que entregam até 2tera bytes em apenas um par de fibras”.
– Você falou que há um crescimento técnico. Mas eu quero saber, e o crescimento do mercado? Tem provedor pra caramba contratando transporte?Por que um provedor deveria usar a tua empresa pra contratar um transporte? Por que ele próprio não constrói e economiza esse dinheiro?
“O custo de construção para um provedor hoje é muito pequeno, ou seja, o cabo é muito barato, lançar o cabo na rua é muito barato, só que a operação daquilo custa muito caro e manter uma equipe na rua pra cuidar de 40 km de cabo custa muito caro no mês, uns R$ 35.000,00, vamos supor assim, pra poder manter uma equipe, carro, técnico 24/7, etc.
Esse custo é muito alto, quando uma empresa como a nossa se propõe a prestar esse serviço, nós temos esse custo de manutenção e esses 30 mil que o provedor colocaria na operação mensal de uma rede de longa distancia, ele foca aquilo em equipamentos para o cliente dele, na melhoria e na qualidade para o cliente dele. A partir disso ele ganha mercado e expande a atuação dele, enquanto nós ficamos responsáveis de fazer a manutenção sem custo de operação”.
– Você pode falar um pouco da sua empresa?
“A Net Wireless Comunicações nasceu em 2014 para prestar serviços pra grandes operadoras, nós atendíamos Claro, Nextel, etc. em janeiro de 2015 por advento da copa do mundo e da chegada das olimpíadas de 2016, nós começamos a fazer projetos para aquele anel olímpico da Barra da Tijuca, quando nós tomamos a decisão de passarmos a atuar na nossa própria fibra e por uma solicitação da Oi, nós tivemos o desafio de passar fibras pra alugar pra eles e nós vimos que era um bom negócio alugar fibras pra eles e começamos a construir redes na região da barra da tijuca só pra entregar para a Oi.
– Caramba, mas a oi? Não seria melhor eles construírem eles mesmo?
“Eles viram que seria muito melhor eles terceirizarem do que construírem eles mesmos. E fibras de backbone são fibras que exigem mais cuidados, então para entregar uma fibra de backbone é necessária uma maior qualidade do cabo, um SLA melhor, fibras de entrega de lastmille podem romper a toda hora que você consegue rotear um caminho, já na de backbone, passa muito trafego ali e ela tem que ser “irrompível”, ou seja, ela não pode romper e se romper tem que ser muito rápida a recuperação.
E ai nós começamos a fazer trabalho pra eles, isso chegou na tim também e no fim das contas nós começamos a fazer projetos especiais como a construção do anel óptico do Rio de Janeiro dentro da região olímpica, através do dutos do DRT. Fizemos esse projeto e logo em seguida a gente entrou na supervia, a supervia detentora da malha ferroviária do Rio de Janeiro. Então nós fizemos dentro da supervia uma malha de fibra óptica de cabos de alta capacidade, o que nós chamamos de cabos PK”.
– Eu achava que todas as fibras transmitiam todas as frequências. Não é verdade?
“Não. Tem que ter uma especificação na fibra que é a especificação PK, que determina que ela transmita todas as frequências de luz”.
– Então, por exemplo, uma fibra comum terá dificuldade em transmitir, porém essa fibra aí pode passar muitos canais por ela?
“Sim, pode passar muita coisa, ela pode chegar a até 2tera bytes de transferência numa única fibra. Então nós construímos esse backbone com essa tecnologia capaz de aplicar um DWDM e trafegar em todos os comprimentos de onda possíveis dentro de um cabo de fibra ótica. e nós fizemos essa ligação para atender uma carência muito grande que existe na Baixada Fluminense.
A Baixada Fluminense é um mercado em expansão, hoje é o mercado de provedores que mais cresce no Rio de Janeiro, lá se tem uma população ainda dentro daquele plano de que existem 300 mil localidades para serem atendidas, na Baixada Fluminense no Rio de Janeiro hoje existem muitas localidades para serem atendidas. E os provedores estão crescendo lá, porém, não tinha infraestrutura de conectividade e transporte para os grandes datacenters, ou seja, as empresas que levavam transporte pra lá, elas cobravam um valor mais alto porque elas estavam sozinhas naquele trecho e ai elas cobravam por megabyte, um exemplo é hoje um provedor pago em torno de 13 reais o mega, ou seja 13 mil reais o gigabyte lá em Nova Iguaçu”.
– Só por curiosidade, essa fibra é passada onde no trem? No trilho?
“É passado bem próximo do cabo que alimenta os trens”.
– Existe o roubo de cabo de energia. Você não acha que poderiam roubar o cabo de fibra?
“Há um tempo o que acontecia era que o pessoal confundia o cabo de fibra com o cabo de cobre, mas dentro da supervia tem diminuído o furto de cabo de cobre e hoje em dia também o pessoal já conhece os cabos de fibra, então… E assim, o risco de alguém roubar um cabo de fibra é muito grande porque a tensão mais próxima do cabo tem 3400 volts”
– A sua empresa já está pensando na oportunidade de fazer algum projeto de fibra na rede de água e esgoto?
“Nós tivemos como parceiro uma empresa que faz isso na Espanha e ela trouxe essa tecnologia pra cá, começou a desenvolver isso em São Paulo e ela fez aqui no rio de janeiro um estudo pra poder fazer isso, é uma tecnologia fantástica, tem um robozinho que vai passando por dentro da rede de esgoto e ele vai passando uma cola por cima do tubo que é justamente quando a água vai enchendo e fica aquela bolha de ar, então justamente onde a água não molha ele passa uma cola e vai colando o cabo. E ai ele chega à casa do cliente justamente pela caixa de esgoto”.
– Tem bastante provedor contratando a sua empresa?
“Nós fizemos bastantes expansões, hoje nós estamos chegando à Mesquita, Nova Iguaçu, Comendador Soares, expandindo em direção a Japeri, fizemos também a conexão da Pavuna em São João de Meriti. Hoje quem tem fibra dentro da rede do metro tem uma opção que é sair pela supervia também e chegar até o centro da cidade, então você tem duas redes ultra seguras de transporte de dados”.
– Duas vias por que tem dois cabos de fibra no trem?
“No caso de Pavuna as duas estações do metrô e da supervia ficam lado a lado, então ele pode optar em pegar uma fibra dentro do metro e uma dentro da supervia”.
– Mas a rede do metrô não é da tua empresa, né?
“não é da minha empresa, mas a supervias é”.
– Quantas vezes tua rede caiu em um ano?
“Em um ano foram três incidentes.”
– E quando tem a manutenção? Não tem que esperar o trem parar?
“Então, a manutenção é um assunto bem interessante; todo mundo pensa que a gente só pode fazer quando o trem não estiver operando. Na Net Wireless nós fazemos um plano de recuperação emergencial, ou seja, nós passamos o cabo, levamos o cabo para o muro, fazemos a recuperação e restabelecemos o sistema”.
– E se alguém quiser contratar um link de vocês? Vocês fazem também ou é só transporte?
“Geralmente nós indicamos algum parceiro, alguma empresa grande”.
– Se eu quiser conectar uma porta da Akamai no seu datacenter de Iguaçu, é cobrado?
“É cobrado. Nós temos parcerias com empresas que fazem o transporte em cima dessa fibra pra poder conectar a Akamai”
– Se alguém quiser comprar uma banda de internet de uma empresa específica que já tem presença no seu datacenter, é a própria empresa que vende isso para o provedor?
“Isso, e ele acessa no meu datacenter”.
– Mas esse transporte entre o seu datacenter e o datacenter da empresa que vendeu a internet para o provedor é de responsabilidade de quem?
“o transporte iluminado é de responsabilidade da empresa que utiliza a nossa fibra, ou seja, o nosso parceiro que tem as fibras conosco”.
– e o PTT? Vai ter PTT no seu datacenter em nova Iguaçu?
“Nós estamos trabalhando duas coisas, um pra ter um Six em Nova Iguaçu, e o Pix que ainda depende de criar a rota redundante pra Nova Iguaçu”.
– Você tem duas fibras até lá?
“Nós temos uma fibra até o datacenter de Nova Iguaçu e estamos passando a outra que vai conectar lá em São João. a gente vai fazer um Six ao invés de uma rota única por enquanto”.
– Já pode pegar o PTT lá de Nova Iguaçu? Quanto custa?
“Já pode pegar sim, eu não posso falar quanto custa, mas é muito barato”.
Enfim, pessoal, esse foi o resumo da minha conversa com o Marcio Menguta. Eu aconselho vocês assistirem o episódio para que vocês possam ter um conteúdo mais completo e com mais informações.